terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CRISTO PARA TODAS AS NAÇÕES....

        Ao darmos nossos primeiros passos para uma reflexão teológica mais apurada em relação à exclusividade de Cristo e o diálogo inter-religioso, começamos a trilhar uma caminhada de barreiras e impedimentos que trazem tamanhos prejuízos ao desenvolvimento da restauração da humanidade. A idéia da reconciliação do homem com Deus e a supremacia de Cristo remete-nos a pensar e repensar nossas propostas e supostas convicções a respeito deste assunto. Na busca da restauração da humanidade, de uma reunificação humanitária juntamente com o Deus Criador, precisamos destronar as barreiras criadas no decorrer da história. Nossos preconceitos e prerrogativas em relação o diálogo inter-religioso são demasiadamente fundamentalistas, um fundamentalismo sem flexibilidade, com opiniões sem bases sólidas, principalmente superficiais. Devemos na prática atendermos o ministério que nos foi proposto, o ministério da reconciliação, de acordo com a segunda epístola de Paulo aos Coríntios no capítulo 5:18-25. O próprio apóstolo Paulo trabalha a idéia do ministério da reconciliação, dizendo que o próprio Deus por meio de Cristo nos reconciliou com Ele, nos dando a representatividade deste ministério. Paulo traz uma palavra chave que retrata como se dá toda essa idéia, a palavra usada é ‘’embaixadores’’, o que vem a ser um embaixador? Nos pensamentos de Paulo e em nossos pensamentos hoje como entendemos essa colocação?Parece-me que Paulo trabalha a idéia de ser um representante do Reino de Deus.  
        No mundo moderno sabemos que uma embaixada é aquela que representa o seu país em outro território, e ao representar o seu país busca interesses econômicos, políticos e às vezes religiosos dentro de suas expectativas e perspectivas. Neste trecho bíblico citado, Paulo nos chama a sermos representantes do Reino de Deus, reino que não é nosso, somos participantes do Reino, representantes. O reino que deveria ser demonstrado aos homens, a reconciliação que deveria ser proclamada ainda clama por libertação das amarras institucionais. Libertação das idéias exclusivistas que travam as relações para melhor compreensão do diálogo inter-religioso e da obra de Cristo. Jesus Cristo é nosso modelo, o embaixador perfeito, aquele que desamarrou o nó que existia entre Deus e os seres humanos. Cristo nos convida a proclamar sua supremacia, que esta acima de qualquer religião ou instituição humana. O que vemos nas missões é ao contrário, o que se propaga são pseudo propostas das próprias instituições eclesiásticas, seus achismos , suas crendices, sua maneira arrogante de interpretação bíblica e outras coisas mais. Além disso, seus objetivos não estão em busca de um propósito maior para o bem estar da criação, na maioria das vezes o investimento feito busca o reconhecimento e o crescimento de sua própria bandeira. O projeto missionário de Deus por meio de Cristo traz uma nova dimensão, uma nova luz, onde ao enxergarmos devemos compreender que a obra redentora de Cristo perpassa nossa compreensão a respeito da reconciliação do homem com Deus. Por meio deste Cristo a humanidade encontra a salvação.
         Nossa geração não conseguiu ainda enxergar quantos problemas estamos criando devido a nossa falta de entendimento, nossa espiritualidade ocidental além de ser arrogante não consegue representar os ideais do Cristo e Reino de Deus. Nossa compreensão e formas de atuação são individualistas, exclusivistas e moralistas, traçamos um caminho no qual não se chega a nenhum objetivo ou destino. A geração já até ouviu falar do Cristo, mas qual será o Cristo que estamos propagando? O Cristo Redentor do Rio de Janeiro, o Cristo do Show da Fé, o Cristo do baú da felicidade, o Cristo curandeiro etc... No cotidiano são tantos modelos de Cristo propagados, que já não estamos entendendo nada. Dentro desse caldeirão todo, ainda encontramos muitos vestígios culturais do passado, que pré moldaram nosso conhecimento do evangelho, nossas posturas e definições teológicas se baseiam ainda nesses ingredientes deste caldeirão. Ainda não conseguimos adicionar novos ingredientes, novas pitadas de sal, nos acomodamos a mesmice, não querendo mudanças. Deus ao reconciliar o mundo por meio de Cristo quer a restauração de toda sua criação, quer o bem estar de toda uma geração, e nós somos chamados para propagação desta mensagem reconciliadora. Ao levarmos os ideais de Cristo e de seu Reino, devemos deixar de lado a imposição e intolerância que criamos para com as outras religiões. Não podemos criar problemas e questionamentos, mas ao praticarmos os propósitos e os ideais do Reino passamos a mostrar um caminho mais excelente, caminho esse que traz a verdadeira salvação. A salvação do homem está no fato do homem ser livre das amarras que fazem dele seu próprio escravo, escravo da vida e escravo dos sistemas que mesmo cria, sejam eles religiosos ou políticos, pior ainda nos aspectos econômicos, onde vemos a miséria e o egoísmo em altos contrastes. É nesse lugar que Deus quer entrar, e dentro dessas situações que o Cristo quer salvar e trazer a verdadeira paz que a humanidade precisa.
       Na verdade tudo isso seria bom, mas o que temos é muita teoria, quando praticamos usamos as teorias mais erradas e absurdas possíveis.O que mais precisamos nestes momentos atuais é descermos de nosso salto alto, buscar uma espiritualidade que reconheça de fato quem somos uma espiritualidade integradora, que saia dos impasses teológicos e filosóficos, que tenha um melhor engajamento. A proclamação do evangelho e as práticas do Reino de Deus devem fazer parte do cotidiano nosso, ao lermos as Escrituras devemos reconhecer com humildade às grandezas do Deus Criador e Redentor. Ao vivermos o evangelho de Cristo estaremos praticando e não apenas teorizando, fazendo com que a missão seja mais integradora diante das culturas, religiões e etnias. Nossas verdades devem se render ao Senhorio de Cristo, o nosso conforto e conformismo com o mundo faz de nós seres que ainda não entenderam a verdadeira missão. A vida com seus prazeres, seu consumismo desenfreado faz com que fiquemos infrutíferos, só enxergamos valores que não fazem parte do Reino de Deus, estamos como que a sementes que caíram entre os espinhos, parábola que o próprio Jesus contou, ouvimos a mensagem, mas os cuidados da vida, a fascinação das riquezas e demais ambições fazem de nós pessoas sufocadas.
        Mas bom mesmo é saber que Deus exorta por nosso intermédio, que os homens devem se reconciliar com Deus por meio de Cristo e essa reconciliação deve ser primeiramente pessoal. É nesta dimensão que aprendemos e passamos a entender melhor o desejo de Deus para todos os homens, mas ao sermos egoístas não enxergamos o bojo maior dos benefícios que o Criador deseja para toda a humanidade. Ao abordarmos tudo isso cabe a nós termos um compromisso maior, um estilo de vida que difunda e ajude a transformar todas as dimensões sejam elas pessoais, culturais, políticas, ecológicas e eclesiais para vivermos de acordo com o modelo de Cristo.
Finalizo então com uma definição de Karl Barth a respeito da reconciliação: ‘’Reconciliação é a restituição, é a retomada de uma comunhão outrora existente, mas ameaçada pela dissolução. É a manutenção, restauração e sustentação dessa comunhão em confronto com um elemento que a perturbe e desestruture. É a realização do propósito original de Deus que subjaz e a controla, tanto no confronto quanto na remoção desta obstrução. A comunhão que existia entre Deus e o ser humano, que foi então perturbada e ameaçada, cujo propósito é agora cumprido em Jesus Cristo e na obra da reconciliação, nós a descrevemos como a aliança. ’’.
        Quem dera a humanidade pudesse compreender esse pensamento, talvez estivéssemos caminhando em uma melhor direção e em melhores condições, rumo a nossa própria restauração e reunificação.